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quinta-feira, 20 de outubro de 2011

Quando trabalhar de graça

Se tem uma coisa que fotógrafo “profissional” (no sentido esnobe da palavra) odeia, é trabalhar de graça. Eles também odeiam quando quem está começando não cobra nada para fotografar algo (para ter portfolio) e acaba “roubando” seu cliente. Acho isso o fim da picada, porque trabalhar de graça não é tão ruim assim. Só que existe o outro lado da história: você sabe quando trabalhar de graça vale a pena?

Trabalhe de graça ou pelo preço completo, nunca pela metade

O que isso quer dizer? Que fazer um trabalho de graça não é necessariamente desvalorizar o seu trabalho (afinal você estará fazendo isso por algum motivo egoísta de qualquer forma, hehehehe) – pior que isso é você cobrar menos do que você vale.

Foto por Tamaki
Vamos para um exemplo:
Digamos que você gasta 100 reais para oferecer um produto e o vende para o seu cliente por 200. Se você dar um desconto de 50% você estará pagando somente o seu custo, e tendo que oferecer o mesmo do que se estivesse recebendo o seu lucro! Não é bom para você (que vai estar trabalhando sem nenhuma motivação), não é bom pro seu cliente (que irá receber um produto inferior pela sua falta de motivação) e não é bom para sua imagem (afinal seu cliente vai achar que você estava passando a perna dele, pensando que os 100 ainda possuem lucro e que o seu lucro anterior era absurdamente enorme e injusto.) Por isso não interessa o motivo: se você está considerando dar um grande desconto considere não cobrar nada de uma vez por todas!
Lembre-se que trabalhar de graça é sim um favor, então a empresa/pessoa para quem você está dando esse favor vai estar ciente disso e vai saber que terá que ceder em algum ponto.
Seja qual for o motivo que você vai estar trabalhando de graça esses 100 reais de custo serão o seu investimento, o cliente vai receber um produto de qualidade e os dois terão suas vantagens (que terão sido previamente combinadas.)
Dito isso, vamos ao que interessa: quando trabalhar de graça?

Quando você está começando

Este cenário todo mundo já conhece: estamos começando e além da falta de experiência temos falta de portfolio. Não temos uma carta robusta o suficiente de trabalhos para conseguir outros e isso vira uma bola de neve. A solução? Trabalhar de graça.
Dependendo da sua área você pode procurar outros fotógrafos que estejam dispostos a te “acolher” – te levar em um evento, viagem, ensaio, job… e nessa hora, meus amigos, a dica lá em cima vale como ouro: trabalhe de graça, mas nunca por pouco!Não deixe que nenhuma empresa de fotografia ou fotógrafo espertinhos façam você de escravo – deixe claro que está montando seu portfolio e gostaria de juntar mais experiência – e por isso não vai cobrar pelo trabalho.
Grandes empresas, principalmente, têm mania de explorar bons fotógrafos iniciantes (oi, já aconteceu comigo) pagando uma merreca para trabalharmos feito loucos. Não deixe que isso aconteça! Escolha bem para quem você vai trabalhar e vá com carinho e dedicação.

Foto por turkguy19
Como eu disse anteriormente ninguém vai sair perdendo: o cliente/colega que te “contratou” sabe que você está começando e por isso não pode colocar nenhuma expectativa no seu trabalho. Isso é uma vantagem para você, que poderá trabalhar totalmente livre– e como é bom trabalhar livre de expectativas! Você poderá usar as fotos para o seu portfolio e, de quebra, terá a experiência que talvez não tenha tido ainda.
Como compensação o cliente/colega terá boas fotos (afinal sem expectativas produzimos fotos incríveis rs) e, claro, sem nenhum custo adicional, além de estar ajudando alguém que no futuro poderá ser uma parceria importante.

Quando você NÃO está começando

Talvez o mais complicado seja justamente deixar de cobrar quando você não está começando. Vem o orgulho e vem a preguiça (do tipo: se não preciso, por que trabalhar de graça?)
O meu principal motivo para trabalhar de graça atualmente é justamente a falta de pressão vinda de fora. Explico:
Quando somos pagos pelo nosso trabalho existe uma pressãozinha escondida, mesmo que saibamos que podemos satisfazer aquilo que prometemos. Estamos sendo pagos (preferencialmente bem pagos) para fazer algo e não adianta: isso dá um medinho.“E se eu não conseguir superar as expectativas do meu cliente?”
Não sei se sou só eu, mas eu sinto esse medo sempre, mesmo depois de anos de fotografia. E isso que eu não sou famosa, imagina só caras como o Vinícius Matos: a cada casamento que chega o cliente espera simplesmente o melhor do melh0r do melhor! Cruz credo… não gosto nem de imaginar a pressão! rs
Só que além dessa pressão, vinda do cliente, temos a nossa pressão interna: queremos sempre fazer fotos melhores do que as nossas últimas fotos, queremos sempre superar as nossas próprias expectativas, queremos sempre conseguir melhores fotos em menos cliques, composições inovadoras e focos incríveis.
Quando trabalho de graça a pressão externa deixa de existir e só sobra a minha própria – já é uma vantagem :)
Ps.: mas se alguém souber como diminuir a expectativa sobre o próprio trabalho, por favor me ensine.
A minha vantagem é conseguir um trabalho sem tanta pressão, além de prazos mais flexíveis e, claro, portfolio (porque portfolio NUNCA é demais e você nunca sabe quando vai fazer A foto.)
A vantagem do cliente é ter um trabalho profissional e de qualidade, de graça.
Todo mundo sai ganhando.

Quando seu cliente é uma organização sem fins lucrativos

Por fim, mas não menos importante: se o seu cliente realmente não tem o dinheiro para investir na sua fotografia porque toda a grana vai diretamente para ajudar alguma causa (seja ela qual for) é interessante lembrar que não dá pra cobrar mesmo. Nesse caso nem você nem o cliente têm como o objetivo o lucro, então todo mundo sai ganhando (inclusive a causa) e você colabora com a sociedade com o que você mais sabe fazer, que é fotografar.
Se você tiver tempo (ou melhor: puder reservar um tempo) para projetos pró-bono, vai perceber que os benefícios são muito maiores do que portfolio ou dinheiro. Fazer algo além do ordinário não tem preço.
E você? Gosta de trabalhar de graça? :)

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