Introdução
As dúvidas sobre a escolha da câmera têm se tornado cada vez mais freqüentes entre os usuários das comunidades fotográficas existentes na Internet. Esta dúvida ganhou especial intensidade na era digital, com o aumento da popularização da fotografia e também com a enorme variedade de opções de equipamentos que surgiram neste período. O número crescente de variáveis nesta escolha também impactou neste cenário, levando os usuários a um frenesi por informações que possam levá-los a uma escolha perfeita. A vasta disponibilidade de informação (muitas vezes de má qualidade) associada à incerteza e à ansiedade que precedem uma compra, acabam gerando uma enorme aflição, tanto nos fotógrafos iniciantes, como nos mais experientes. Estas questões levam então a uma dúvida muito recorrente sobre como escolher uma boa câmera.
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Visando diminuir tal aflição este artigo tem por objetivo auxiliar os usuários interessados em adquirir uma câmera, seja ela uma câmera digital ou de filme, a estruturar seu processo de escolha. A idéia do artigo é prescritiva, visa uma oferecer uma receita para auxiliar no aumento da racionalidade da escolha, porém este também reconhece e respeita o caráter subjetivo deste processo e como tal encoraja o usuário, que se sinta confortável, a elaborar alterações no processo proposto, quando julgar necessário. Com isso pretende-se aumentar a satisfação dos usuários com suas escolhas e também melhorar o desempenho dos fotógrafos, uma vez que estes poderão identificar e adquirir equipamentos mais apropriados às suas necessidades.
Por fim, se você está começando agora no mundo da fotografia, pode ser interessante iniciar sua jornada a partir da leitura do artigo A Escolha da Câmera.
O primeiro passo
O principal erro cometido na busca por uma câmera é imaginar que existe uma câmera que seja melhor do que todas as outras de maneira absoluta. Definir a melhor câmera é algo relativo, depende da percepção sobre certos recursos e acima de tudo das utilidades que se pretende dar a um dado equipamento. Cada equipamento tem suas características únicas, que o tornam uma opção melhor do que os demais para certas aplicações. Definir em quais funcionalidades um equipamento é melhor é uma tarefa fácil, porém definir quais funcionalidades possuem um maior peso na satisfação do usuário é uma tarefa subjetiva, altamente pessoal e muito complexa. Um simples erro na definição da importância dos atributos pode ser a causa de uma enorme insatisfação. Em decorrência disso uma boa escolha começa por uma ruptura com a opinião pessoal de vendedores e usuários que operam com aplicações diferentes das suas.
Um segundo erro é não pensar nas limitações de recursos e na percepção de valor para os ganhos que o usuário obtém com um determinado benefício. Este erro pode levar a duas frustrações. A primeira é a frustração de fazer todo um processo de escolha e na hora de comprar não ter os recursos para realizar os investimentos que gostaria. A segunda frustração, decorrente deste erro, é perceber que realizou um investimento enorme em um determinado equipamento e este equipamento corresponde a pouco a mais do que o equipamento de um conhecido que precisou investir muito menos. Se a percepção sobre os atributos que o usuário necessita não estiver muito clara, pode levar até ao extremo de o usuário acreditar que seu maior investimento corresponde a menos benefícios do que o de colegas que investiram significativamente menos, alavancando o nível de insatisfação.
A esta altura o leitor deve estar percebendo que o primeiro grande passo deste processo é definir claramente o que se espera do equipamento, os limites de recursos para o investimento e a importância que a economia de recursos financeiros tem para o usuário. Esta tarefa, aparentemente simples, é o fator primordial para uma boa escolha de seu equipamento fotográfico.
Com base nestas afirmações, devemos começar o nosso processo de escolha com a elaboração de uma lista de usos pretendidos para o equipamento e a intensidade que se pretende fazer para cada um destes usos. Com base nesta lista é possível criar uma lista de atributos necessários para atender a cada uma das atividades em questão, assim como o futuro peso que daremos a certos atributos.
Alguns equipamentos (como as câmeras SLR) possuem acessórios que, por muitas vezes, exigem um investimento maior do que o referente à própria câmera. Tais acessórios são fundamentais para o bom desempenho do equipamento em determinadas aplicações, assim estes também devem ser considerados como investimentos necessários para a obtenção dos objetivos durante o processo de escolha. Fatores como o usuário possuir um bom set de lentes são importantes, pois se ele possui pode ser interessante que ele não troque o set, caso não possua pode ser que não faça sentido comprar a câmera sem um determinado acessório e assim por diante.
Também não podemos nos esquecer das limitações de recursos. É extremamente importante definir qual o valor máximo que se pretende investir nesta aquisição, para que não corra o risco de incorrer em um dos erros citados anteriormente.
Reconhecendo as opções
Atualmente o mercado conta com uma infinidade de opções, das mais variadas marcas, porte, preço e qualidade.
Via de regra podemos separar as câmeras em dois grandes grupos, as câmeras de lentes intercambiáveis e as câmeras de lentes fixas.
As câmeras de lentes fixas normalmente são aquelas câmeras mais práticas, versáteis e baratas. Estas câmeras costumam ser encontradas em versões com um Zoom de range bastante grande (denominadas de ultra-zoom) e de range curtos (normalmente mais compactas). Tais câmeras possuem foco nos mais diversos tipos de usuários e por isso são encontradas com os mais variados tipos de recursos.
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As câmeras de lente intercambiável são normalmente associadas às SLR (ou single lens reflex). Estas câmeras costumam ter como principais atributos a maior qualidade de imagem, a maior velocidade e maior controle sobre a fotografia. Costumam serem câmeras de maior porte, devido à maior complexidade mecânica. Também possuem uma forte relação com seus acessórios, fazendo da escolha da câmera adequada, um processo mais difícil, porque normalmente a escolha apropriada estará também ligada aos próprios acessórios.
Porém não só de SLRs vive o mercado de câmeras de lente intercambiável. Muitas das câmeras de telêmetro e mais recentemente as baseadas em EVF e visualização por Live View no LCD, têm sido oferecidas como versões mais compactas das tradicionais SLR. Tais câmeras perdem em certas características, mas trazem dimensões chamativas para certos tipos de aplicação.
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Partindo para a definição das opções
Tendo em mente suas necessidades você já pode começar as listar os equipamentos que atendem às suas necessidades básicas. O principal fator a ser levado em consideração nesta etapa, são seus limites de recursos. O ideal é que você monte kits que incluam não só a câmera, como os acessórios necessários para realizar todos os tipos de fotografia que você pretende fazer, tendo sempre em mente os limites de recursos (você deve incluir kits próximos deste limite, abaixo deste limite, mas nunca acima deste limite). Neste caso pode ser que você não consiga compor o kit sempre com os melhores itens ou os itens inicialmente pretendidos, assim procure montar alternativas variadas que girem em torno de itens mais importantes.
Um exemplo. Você pretende fazer fotografias de macro como atividade principal. Caso seus limites de recursos não lhe permitam comprar o melhor flash para macro, a melhor lente para macro e um bom corpo de SLR, então busque montar kits que envolvam variações envolvendo a melhor lente e um corpo mediano e um bom flash para macro, uma lente mediana e um corpo bom e um flash mediano e assim por diante. Também procure incluir equipamentos mais baratos, pois estes podem acabar se constituindo em uma opção viável.
Outra questão importante é não se prender a marcas. Nesta fase a marca ainda não deve ser considerada. Todas as opções compatíveis com as necessidades básicas e acessíveis aos seus recursos devem ser consideradas. O foco inicial em um determinado equipamento ou câmera pode fazer com que o usuário se prenda a uma posição, levando a uma compra irracional.
A lista obtida por este processo costuma conter uma ampla variedade de opções. Tendo esta variedade de opções, compatíveis com seus limites de recursos, você pode realizar um filtro mais direcionado às suas necessidades.
Impondo restrições
A terceira etapa do processo é a determinação de restrições. Algumas premissas básicas podem ser impostas logo de início, visando excluir conjuntos que não atendam a determinadas exigências adicionais e OBJETIVAS. Nesta etapa costuma-se eliminar kits onde não se tenha determinada solução secundária (pode ser lentes, flashs etc), ou que não atendam a algum requisito estabelecido com relação à possibilidade de trocas futuras e assim por diante. Ao final deste processo você pode terminar tanto com uma solução final para o seu problema como com várias soluções, ainda por ordenar (normalmente ocorre a segunda opção).
Encontrando a melhor opção entre muitas
Nesta etapa o usuário deverá ordenar as opções encontradas, visando obter uma lista que vá da melhor para a pior dentre as opções listadas. Para tal, a sugestão é a de construir uma matriz de decisão. Visando facilitar o processo, utilize uma folha para cada um dos conjuntos. Nesta folha você deverá listar os atributos que se pretende analisar, os pesos e as notas de cada atributo.
O processo de montagem desta lista começa por listar os atributos que serão avaliados. Ex: CUSTO, Nitidez da imagem, latitude, profundidade de cor, velocidade do AF, disponibilidade da lente tal, resistência do corpo, design etc.
Para cada um dos atributos listados você deverá indicar um peso de 1 a 10. Este peso tem caráter subjetivo e irá significar o quanto de importância cada um dos atributos tem para a aplicação que você pretende dar ao equipamento, onde 10 significa importância crucial e 1 significa praticamente sem importância. Nesta fase é importante voltar aos levantamentos dos primeiros passos para analisar a importância de cada um dos atributos no tipo de atividade que você pretende desenvolver.
Porque não começar de 0? Simplesmente porque 0 consiste em um atributo sem importância alguma, neste caso não faz sentido listar tal atributo na matriz de decisão.
Com os pesos atribuídos, a ordenação chega ao momento crítico, atribuir notas para os conjuntos em cada um dos atributos. Perceba que nesta etapa serão computados tanto fatores subjetivos da escolha, como os fatores objetivos, que precisam de intensa pesquisa a respeito dos equipamentos listados. Algumas boas fontes para esta pesquisa são os reviews, fotos e opiniões de usuários, o site do fabricante e o contato direto com o equipamento. Tendo os resultados da pesquisa em mãos, você pode atribuir uma nota, a partir de sua percepção, para cada um dos atributos. Nesta etapa é importante que a ordenação de qualidade em um determinado atributo seja sempre precisa, pois o que é melhor em um atributo é melhor e pronto, esta é a parte objetiva deste processo e o melhor deve receber sempre a melhor nota e o pior deve receber sempre a pior nota). Porém você pode definir um critério que definirá o quanto as notas estarão distantes uma das outras, é neste critério que esta etapa recebe seu coeficiente de subjetividade, mas é importante que ao definir o critério ele seja cumprido a risca, para que a distância entre os equipamentos similares seja menor do que entre os mais discrepantes.
Um exemplo de critério: Para o atributo nitidez você pode pegar o resultado em linhas do MTF e dar 10 para o maior MTF e obter as notas dos demais a partir da divisão dos resultados de cada equipamento pelo resultado do melhor, multiplicada por 10, o que levaria a todos os demais equipamentos a terem uma nota mais baixa que o melhor, porém seguindo uma proporção previamente definida.
Tendo em mãos as notas e os pesos, então você deve multiplicar os pesos pelas notas de cada atributo e ao final somar todos estes resultados ponderados para obter a pontuação final de cada conjunto. Basta então seqüenciar os conjuntos da maior para a menor pontuação e a escolha está concluída. A opção mais apropriada dentro das premissas adotadas seria o conjunto com maior pontuação e assim sucessivamente.
Clique aqui para baixar uma planilha de Excel para auxiliar neste trabalho.
Conclusão
Este artigo oferece uma diretriz para auxílio na tomada de decisão na escolha de um equipamento fotográfico. Tal processo é baseado em técnicas normalmente usadas para a realização de compras racionais dentro de organizações. Espera-se com isso conseguir a maximização da satisfação dos usuários e também sua independência neste processo de seleção e escolha de equipamentos.
Para o sucesso de qualquer processo de escolha é necessário, por parte do usuário, um conhecimento e um compromisso com os próprios interesses fotográficos. Assim vale a pena ressalvar que tal esforço de seleção só faz sentido se o usuário partir de uma posição inicial neutra, que busque um desligamento com relação às idéias de marketing pregadas pelas marcas (inclusive as abordagens de vendedores) e uma ruptura com as opiniões de terceiros (que normalmente sequer utilizam o equipamento para a mesma função).
Autor: Leo Terra
Autor dos cursos da Teia do Conhecimento
Disponível no Mundo Fotográfico
Fonte: http://forum.mundofotografico.com.br/index.php?topic=35747.0
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